Não me consigo habituar a esta nova fase da vida em que cada vez morrem
mais pessoas. As minhas pessoas.
As nossas memorias são as pessoas, nos pensamentos e sonhos estão as
pessoas que se cruzaram ou estão na nossa vida.
E depois há aquelas que representam “coisas”. Valores, sentimentos,
raizes, coisas da nossa vida, são referencias. E quando morrem, para além da
saudade, da falta, parece que um bocado de nós morre com elas. Bocados de que
somos feitos porque nos ajudaram a ser como somos.
E quando as nossas pessoas começam a
morrer, o nosso mundo começa a partir-se e a ficar mais vazio. E a vida passa a
ter outro sentido. O mundo dos espiritos, ou lá o que for que achamos que vai
ser depois, começa a viver mais perto de nós, porque é lá que estão as nossas
pessoas.
E então a vida só é real com duas dimensões, onde estamos e onde eles
estão.
2 comentários:
É uma das coisas más da idade! Mas se pensarmos que somos assim como somos porque elas passaram na nossa vida, a tristeza toma uma nova dimensão e torna-se quase felicidade. Quantas vezes é que tu não estás a pensar nessas pessoas que já passaram por ti, estejam mortas ou não, e dás por ti a sorrir ou deste uma gargalhada?
A saudade existe sempre mas a saudade não é só dos mortos às vezes a que dói mais é a saudade dos vivos, digo eu ;)
S
Bjos
S
É verdade S. mas a “sensação” que originou este escrito não foi tanto as saudades, foi esta ideia do “outro lado”. Com tanta gente querida a passar para lá, aquilo começa a tomar um rosto, a ser mais real, a ter que ser.
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