Naquele "rame rame" da fila, as pessoas serpenteando, cruzando-se a cada volta com as mesmas caras. Olhando, muitas vezes sem ver. De repente os olhares deles pousaram um no outro. Normalmente os olhares cruzam-se, desta vez pousaram, suavemente. Lindos, verdes, numa pele bronzeada. Terá sido mesmo? Mais uma volta, a mesma coisa. E mais uma. Igual. E outra. E sempre. Finalmente um para a esquerda, o outro para a direita. Saídas diferentes. Perdidos? Um para uma loja. Outro para um café. Terá sido? De repente, um a sair da loja quando o outro vai a entrar. E voltam a cruzar-se, só eles, sem filas, sem serpentes, sem ninguém. Os olhares pousaram e desta vez com um leve sorriso. Já se conheciam. Afinal foi mesmo. Mas sem parar e agora para se voltar a perder para sempre. Ficou uma angústia que consumia a esperança. Afinal isto ainda é possível. Perdidos, cansados, mas vivos. Foi a dádiva de uma réstia de passado. Sentiram o seu olhar mudar. Sentiram-no nos olhares dos outros perante o deles, a partir daí. Um sentou-se e fechou os olhos, tentando reter aqueles segundos, aquela sensação. Mas a dimensão da perca era enorme. Não cabia. As lágrimas caíram, instintivamente. Queria voltar atrás, segurar aquele momento, experimentar. O outro seguiu, num destino igual. Mas algo mudou, só naquele momento. Aquela parte intocável, ficou ali. Como náufragos deixados numa praia qualquer, entre troncos, nós e nadas. E vagas desenfreadas que vão e vêm, levando. O que têm e o que sonharam.
Na vida cruzamo-nos com milhares de pessoas. Raramente pousamos em alguém.
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