quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Carta ao DN de 19/06/1995

Para a familia e amigos de Alcindo Monteiro, cabo verdiano, assassinado no bairro alto, Lisboa, a 10 Junho 1995.

“Venho por este meio apresentar à família e amigos, do Alcindo, os meus mais sinceros sentimentos.
Como portuguesa sinto-me envergonhada, como ser humano sinto-me revoltada com tudo o que aconteceu, e principalmente, extremamente triste.
Quero com esta minha carta, mostrar-vos que mesmo assim, e apesar de tudo, a maioria dos portugueses não são como aquela minoria, marginal, desajustada, complexada, fraca, cobarde, sem referências e sem princípios.
Que para se afirmar, se junta em grupos, se veste de igual e rapa a cabeça; para se sentirem inseridos em qualquer coisa, se denomina ridiculamente de “skins”, movimento “internacional” para estes “nacionalistas”; que para mostrar força, batem e matam pessoas indefesas.
Sem perceber que todo o seu comportamento só demonstra aquilo que realmente são, uns vermes cobardes, autêntico lixo, um projecto fracassado de ser humano.
Quero também expressar a minha admiração por vós, cabo verdianos, Africanos em geral, vindos das ex-colónias portuguesas, que depois de tudo o que passaram lá, vêm para Portugal, honrar-nos ao serem portugueses.
É uma honra e um privilégio poder considerá-los irmãos, cidadãos do mesmo País.
Dão-nos, ao nosso País, o vosso trabalho, a vossa simpatia, a vossa alegria, o vosso calor, a vossa música, a vossa dança, a vossa cultura, e acima de tudo a vossa dignidade.
Obrigada!
E peço desculpa em nome daqueles, e em nome de todos os portugueses, por não sabermos recebê-los como devíamos e como mereciam.
De uma cidadã portuguesa, solidária com a vossa dor. “

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