segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A minha casa côr de rosa

Ontem, sem aviso prévio, ou seja sem estar preparada, entrei na minha antiga casa. Choque! Primeiro, eu, a bater à “minha” porta! Demoraram a abrir, estavam no jardim, lá atrás, onde não se ouve a campainha, e eu ouvia-os a falar, rir, pareciam-me intrusos, ali tão á-vontade, como se aquilo fosse deles. Depois de um telefonema lá veio ela abrir a porta. Muito simpática, convidou-nos a entrar. Os meus filhos entraram de rompante, numa ânsia de ver, eu a medo, sem querer mostrar e ao mesmo tempo a fazer de conta que aquilo era normal, que não me fazia impressão. Mas estava a sentir tudo, a lembrar-me de tudo! À medida que ía entrando, o jardim, as escadas do alpendre, o corredor, o escritório, a sala de jantar...Foram 10 anos.
As primeiras visitas, quando ela ainda era uma casa abandonada. O amor à primeira vista quando a escolhemos, as visitas semanais durante um ano enquanto a púnhamos de novo bonita, nova. As flores que plantámos, os meus filhos que cresceram ali. Naqueles minutos, breves, à pressa, a fazer conversa de circunstância, tudo me veio à cabeça, como um filme. Lembrei-me de chegar da maternidade com a minha filha, vi os primeiros passos dos meus filhos no corredor, ouvi os seus choros de bebé, lembrei-me do que sentia em cada situação. Estávamos na sala e a minha filha pediu-me em segredo para ver o seu quarto, ela ouviu e insistiu para subirmos. Que impressão! Da janela lá de cima vimos o resto da família no jardim lá de trás. A minha filha encostou a testa ao vidro e temi que chorasse. “Ela é muito sentimentalona” disse eu a disfarçar. “Faz-lhe impressão, é?” …”Pois, disse eu, se até a mim faz”…Ela, amorosa, disse-lhe que podia voltar sempre que quisesse, brincar com os filhos dela.
Apressei a saída, com uma vontade imensa de entrar em todas as divisões, de senti-las outra vez, de lembrar tudo o que vivi em cada uma delas, mas sozinha, sem ter que fazer conversa, sem ter que disfarçar. Bem que eu queria ter vendido a casa a alguém meu amigo, para poder continuar a visitá-la. Mas já não sei se quero, é aquele masoquismo, aquela curiosidade sádica, sabemos que vai doer, mas mesmo assim queremos sentir.
Enfim, já passou…

1 comentário:

susana martins disse...

Eu também tenho saudades da casa cor-de-rosa... Não fui muito assidua,eu sei, mas sempre que fui fiquei e apeteceu-me ficar exactamente por isso porque ia lá poucas vezes mas sempre que lá ia sentia-me bem e apetecia-me ficar... Não sei se faz sentido!