Outro dia quando acordei abri a janela e entrou aquele cheiro de certas manhãs!
Como sempre que algum destes cheiros aparece, fechei os olhos e fui lá.
Aquelas manhãs de outrora, quando estávamos de férias na praia e o mundo cheirava assim de manhã. E levantava-me e ia tomar o pequeno-almoço na cozinha. Naqueles pratos e chávenas de plástico duro, às cores. Oh como tudo sabia melhor naqueles pratos às cores. Estou a vê-los, amarelo, lilás, laranja, encarnado, verde claro, azul.
Só os usávamos nas férias, estavam todo o ano guardados numa arca de vime grande e a minha mãe levava-os para não usarmos as loiças das pessoas das casas que alugávamos no verão. E continuo a ver aquilo tudo. O meu corpo ainda com cheiro a lavado, bronzeado, pele lisa. Os cabelos revoltos com as ondas firmes de secarem na almofada. E o coração em sobressalto pelo começo de mais um dia de praia, sempre cheio de emoções, de reencontros, de palavras que não se dizem mas se adivinham. Olhares que se trocam entre mergulhos no mar e corridas na areia e concurso de saltos no pontão. E combinam-se festas de garagem e idas ao cinema em que ocupávamos filas inteiras e talvez a sorte de ficar ao lado. Porque nessa altura quase tudo estava no sitio certo.
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