segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Impermanência

Perdem-se oportunidades de evolução, perdem-se experiências boas, às vezes perde-se a vida…com esta mania de nos agarrarmos a situações ou pessoas com a ilusão de que o que gostamos não vai mudar nunca. É impressionante. Parece tão fácil interiorizar, porque no fundo já sabemos, que nada é permanente.

O contrário também vale. Muitas vezes por medo, a coisas e situações adversas ou desconhecidas, por que temos que passar para alcançar outras, simplesmente não vamos. Se admitíssemos que nada é permanente, sabíamos que o mal passa tão depressa como o bom. E o importante é viver hoje.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cheiros # 3

Outro dia quando acordei abri a janela e entrou aquele cheiro de certas manhãs!
Como sempre que algum destes cheiros aparece, fechei os olhos e fui lá.
Aquelas manhãs de outrora, quando estávamos de férias na praia e o mundo cheirava assim de manhã. E levantava-me e ia tomar o pequeno-almoço na cozinha. Naqueles pratos e chávenas de plástico duro, às cores. Oh como tudo sabia melhor naqueles pratos às cores. Estou a vê-los, amarelo, lilás, laranja, encarnado, verde claro, azul.
Só os usávamos nas férias, estavam todo o ano guardados numa arca de vime grande e a minha mãe levava-os para não usarmos as loiças das pessoas das casas que alugávamos no verão. E continuo a ver aquilo tudo. O meu corpo ainda com cheiro a lavado, bronzeado, pele lisa. Os cabelos revoltos com as ondas firmes de secarem na almofada. E o coração em sobressalto pelo começo de mais um dia de praia, sempre cheio de emoções, de reencontros, de palavras que não se dizem mas se adivinham. Olhares que se trocam entre mergulhos no mar e corridas na areia e concurso de saltos no pontão. E combinam-se festas de garagem e idas ao cinema em que ocupávamos filas inteiras e talvez a sorte de ficar ao lado. Porque nessa altura quase tudo estava no sitio certo.

Ligações

Outro dia ao abrir o FB li que eu e tu “partilharam uma ligação”!
Em realidade isto não quer dizer nada de muito interessante, é simplesmente que publicamos a mesma canção ou poema ou texto…Dito assim até que é giro. Mas enfim, comoveu-me. Nós que nunca partilhamos nada, muito menos uma ligação, que parece uma coisa tão séria, tão concreta. Se calhar estou errada, até é possível que tenhamos partilhado…sonhos, talvez, não sei. Pergunto-te então:
Alguma vez sonhaste comigo? Houve dias e dias inteiros em que a minha cara, o meu sorriso, o meu olhar não te saía da cabeça? Levantavas-te de manhã para ir para escola com a alegria de ser mais um dia em que me ias ver? Odiavas os fins de semana porque não me podias ver? Achavas que a altura melhor do dia era, no final das aulas, os 10 minutos que levávamos a percorrer o caminho da escola até ao sítio em que tínhamos que dizer até amanhã? Adoravas os dias de chuva porque nesses dias partilhávamos um guarda chuva e tínhamos uma desculpa para caminhar juntinhos? Sentias o toque da minha mão, que por acaso tocava a tua, e todo o teu corpo vibrava? E querias mais? Muito mais? E nunca tivemos…E tudo não passou de um sonho? E nas festas, não te sentiste mal por não ter a coragem de ir para o pé um do outro e dançar aquela música, juntos, com uma mão dada e com a cara encostada, só isso...
Se sentiste isto tudo, então sim, há muito tempo, já tínhamos partilhado uma ligação!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amores

Assumo a sua importância e guardo comigo as pessoas da minha vida
Não recalco sentimentos, não os escondo, nem anulo
Trago-os ao de cima, vivo e vibro com eles
Eu sou um pouco de todos

O fim

Ela saiu naquele dia mais leve, sorrindo. Com aquele vestido preto onde se sentia inteira. Pôs as sandálias altas, para ver o mundo mais de cima e atou o cabelo comprido com um elástico para sentir o vento no pescoço. Não levou mala, só as chaves no bolso e os óculos escuros. Ainda não sabia.
E andou, andou. Vagueou pelas ruas que conhecia de sempre, sorriu a quem passava. E continuou a andar como se fosse para algum lugar. Como se alguém a esperasse. Fingiu que era outra. Passou na esplanada e não parou. Ouviu o seu nome e virou a cara. Começou a sentir que o mundo era outro e ela passava como se também fosse. Tirou as sandálias e correu descalça, para chegar lá mais depressa, antes do fim. Ofegante, sôfrega, corria. Parou ao sentir o fresco da areia nos pés. O vento continuava a acariciar-lhe o pescoço. E viu-o. Grande, imenso, brutal. Fechou os olhos e deixou-se cair.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

«Ela estava sempre nos "bastidores"»

(Á minha querida Tia Palmira)

Ela lá estava
Sempre presente
Nas horas boas e más
Sempre por detrás de tudo,
E de todos

Ninguém reparava, nem eu
Mas agora noto e sinto aquela presença
Em todos os acontecimentos da minha vida
Ela estava lá sempre
Nos "bastidores" de tudo!

Nunca foi Mãe, nem Avó
Mas para mim foi tudo isso junto
e mais qualquer coisa

Ela sempre fez parte do cenário da minha infância e da minha adolescência,
enfim, da minha vida
Partilhando as alegrias e tristezas de todos

E eu sem a notar!
Sem lhe dar o merecido destaque
Porque ela nunca teve a alegria de ter um filho, ou a de ver nascer vida duma vida que deu ao Mundo
Mas sempre as preocupações e o amor duma Mãe, e mais tarde, duma Avó

E por isto tudo
Que só agora há pouco tempo dei conta
Ela jamais terá um lugar secundário no meu coração
Mas ficará, sim, colocada ao lado dos lugares de Avó e Mãe
Pois ela é tudo isso e muito mais!

(escrito quando tinha 17 anos, no Natal)

«As minhas duas velhas queridas»

Estão velhas e cansadas
aquelas duas velhas queridas
cansadas da vida que já viveram,
calmamente,
com aquela calma de outrora

Tão iguais em seus destinos
mas tão diferentes em pensamento

Uma pôs toda a sua juventude e amor nos filhos e agora nos netos
Vive deles e para eles

A outra, como viveu!
Levou a sua vida a mostrar aos outros a justiça humana e os seus próprios sentimentos
Ela pensava,
E escrevia

Agora que resta da poetisa de outrora?
Ainda uma pensadora
mas já não escreve, Diz!
E eu, ao vê-la tratar das suas múltiplas flores vejo esta viagem no tempo,
Este transporte
Todo o seu amor já não o exprime no papel, mas sim nas flores e a sua justiça foi abalada pelas desilusões sofridas.

São as minhas duas velhas queridas!
cada uma passando o seu dia-a-dia a cuidar das suas "primaveras",
Pois o seu "Inverno" chegou...



(escrito quando tinha 16 anos, para as minhas queridas Avó e Tia)

sábado, 30 de outubro de 2010

Medo

Sinto-me como uma criança a descobrir o mundo. Vejo e sinto as coisas de uma maneira tão diferente, tão nova, que é como se tivesse renascido.
Tenho vencido muitas batalhas contra o nosso principal inimigo…esse que não nos deixa viver: o MEDO!
Não o derrotei totalmente nem sei se alguma vez o farei, mas vou continuar a tentar porque vale a pena. O alivio com que se acorda de manhã. A paz, à noite.
Já não me zango tanto comigo, por isso não espelho nos outros as minhas fúrias. Já me aceito melhor, logo os outros também a mim.
Já não tenho medo dos julgamentos alheios, nem do que pensam de mim. Sou mais autêntica (vide “De dentro”).
E muito importante, comecei a vencer a culpa, esse monstro que nos cega, tortura, corrói e às vezes mata.
Os remorsos (adoro em espanhol “remordimientos”, é mesmo de roedor…) por tudo e por nada. Fazem-se asneiras sim senhor, todos fazemos, é assim que somos, não há santos, e quem menos parece pior é. Se pudermos remediar melhor, senão, segue!
Dos meus sentimentos nunca tive medo, sempre adorei senti-los, todos, mesmo os que magoam. A vida sem eles não faz sentido, não são para poupar. A diferença agora é que não tenho medo de os mostrar. E isso é do melhor que há. É tão bom não ter medo, até me sinto mais alta!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Partidas

Não quero que morras! Gosto de saber que existes.
Mesmo sem nunca te ver gosto de saber que estás ali. Algures. Debaixo deste mesmo sol, a sentir este mesmo frio. Nunca fizeste o que te pedi, mas sempre me deste o que eu queria. Vá lá…não morras. Não vou ter saudades porque já não são deste tempo. Mesmo longe quero saber-te feliz. A diferença do amor verdadeiro e desses outros sentimentos egoístas, possessivos e controladores é que um é generoso, solidário e eterno. Os outros, não são amor.
Não quero que morras!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma questão de tempo

Em toda a minha vida vi e senti a mão de Deus, dos meus anjos, das Senhoras, ou de todos eles, dependendo da situação.
Sempre os aceitei pois só assim Eles existem, comigo. E assim, tudo, ou quase tudo, sempre caiu do céu no meu colo. Não só as coisas boas, mas também aquelas pelas quais eu precisava passar, para crescer, aprender e amar melhor.
Há coisas que eu simplesmente SEI.
Quando tomo uma decisão do tipo “vou deixar de fazer isto”, ou “ vou dedicar-me aquilo”, ou “estou farta desta gente”. Ou até “preciso esquecer…”
E se é uma decisão séria e para o meu bem, tudo conspira para que tal aconteça. Não tenho que fechar portas, desligar telefones ou lutar por isto ou aquilo. O que tem que acontecer acontecerá naturalmente e pacificamente, sem lutas. Poderá implicar trabalho, esforço, persistência, mas nunca lutas. Quando há guerra não vale a pena insistir. Não é para nós!
E também há aquelas coisas (situações, pessoas…) que reconheço, sei que são para mim, cruzam-se na minha vida várias vezes, recuso com a consciência inconsciente de que ainda não é o tempo. Até que chega um dia e de repente sei. É agora!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"Amaste-me?"

Agora que o tempo já nos viveu posso finalmente fazer a pergunta: - Amaste-me?
Sem medo, sem nada a perder, sem máscara. Ficamos no tudo por dizer, no tudo por fazer. E chegamos a um dia em que a pergunta se impõe: - Amaste-me?
Se não quiseres não respondas, mas se o fizeres diz a verdade: - Amaste-me?
Confundo o sonho sonhado e o sonho vivido e preciso que me ajudes: - Amaste-me?
Estradas paralelas, cruzamentos, pontes para lá e becos sem saída. Preciso saber agora o caminho que fizemos: - Amaste-me?
Por aquilo que sou, por ti, diz-me, de uma vez por todas: - Amaste-me?
Grita-me cruelmente a verdade, assim despida de cores e de amores. Preciso acalmar a ânsia de saber se alguma vez fui …

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Porta-retrato # 2

Às vezes vens ter comigo nos meus sonhos. Quando começo a não pensar em ti, tu apareces. Entras em mim e pareces real. Falas comigo, abraças-me, dás-me colo. Lembras-me que existes, que estás sempre comigo e que nunca me deixarás. Sinto-te em mim como sempre. Parte de mim que não parte. E conversamos, falamos do quanto e tudo que somos, relembramo-nos. E depois acordo e tu continuas ali, fotografia amarelecida a sorrir-me, estática, vazia, sem vida.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Olhares

Naquele "rame rame" da fila, as pessoas serpenteando, cruzando-se a cada volta com as mesmas caras. Olhando, muitas vezes sem ver. De repente os olhares deles pousaram um no outro. Normalmente os olhares cruzam-se, desta vez pousaram, suavemente. Lindos, verdes, numa pele bronzeada. Terá sido mesmo? Mais uma volta, a mesma coisa. E mais uma. Igual. E outra. E sempre. Finalmente um para a esquerda, o outro para a direita. Saídas diferentes. Perdidos? Um para uma loja. Outro para um café. Terá sido? De repente, um a sair da loja quando o outro vai a entrar. E voltam a cruzar-se, só eles, sem filas, sem serpentes, sem ninguém. Os olhares pousaram e desta vez com um leve sorriso. Já se conheciam. Afinal foi mesmo. Mas sem parar e agora para se voltar a perder para sempre. Ficou uma angústia que consumia a esperança. Afinal isto ainda é possível. Perdidos, cansados, mas vivos. Foi a dádiva de uma réstia de passado. Sentiram o seu olhar mudar. Sentiram-no nos olhares dos outros perante o deles, a partir daí. Um sentou-se e fechou os olhos, tentando reter aqueles segundos, aquela sensação. Mas a dimensão da perca era enorme. Não cabia. As lágrimas caíram, instintivamente. Queria voltar atrás, segurar aquele momento, experimentar. O outro seguiu, num destino igual. Mas algo mudou, só naquele momento. Aquela parte intocável, ficou ali. Como náufragos deixados numa praia qualquer, entre troncos, nós e nadas. E vagas desenfreadas que vão e vêm, levando. O que têm e o que sonharam.
Na vida cruzamo-nos com milhares de pessoas. Raramente pousamos em alguém.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Abandono

Páro o carro, desligo-o e fico sentada a olhar em frente.
Ao fundo o mar, a seguir a praia, mas não a vejo. Uma casa grande, com ar abandonado. Uma rua estreita que leva as pessoas à praia. A linha do comboio. As quatro faixas movimentadas da marginal. E eu. Nos passeios da marginal, em vinte minutos passaram quatro pessoas. E foi no passeio entre a linha do comboio e a estrada. Mais um agora. Todos em direcção à estação, excepto este. A primeira era uma rapariga alta, magra, de pele clara e cabelo preto. Ar de eslava. Calças justas dentro de botas altas, estrangeira, mas não turista, a ir para o trabalho. A seguir um senhor. Com alguns cabelos brancos, africano. De calças e blazer de fundo claro, com riscas, camisa escura. Fez-me lembrar um músico de jazz. Depois uma mulher, de casaco comprido, com um saco de plástico. E finalmente o que ia ao contrário dos outros. Um homem, apressado, de maleta. Todos personagens deslocados no tempo e no espaço. Figurantes de um filme, ou de vários. Eles? Ou eu?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eu aos olhos dos outros

Foram estas as palavras escolhidas por amigos meus para me definir naquele "jogo de definir uma pessoa com uma só palavra":

Frontal
Apaixonada
Humanidade
Self-confident
Divertida
Sincera
Autêntica
Intensa
Divertida
Consciência

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Alheamentos

Toda a vida tive dois problemas de alheamento com o (meu) Mundo.
Um é a solidão. Para onde eu caio, literalmente, de vez em quando e sem razão aparente.
A outra é a falta de integração em “grupos”.
Toda a vida tentei, mas nunca me senti integrada e em sintonia com um grupo, durante muito tempo. Seja de amigos, politico, religioso…
Adorava ter um ideal comum com um determinado grupo de pessoas. Com as quais eu me identificasse. Onde me sentisse integrada e compreendida. Mas nunca consigo.
Há sempre uma determinada altura em que ou há simplesmente um clique, ou alguém diz ou faz qualquer coisa que eu não gosto, ou não concordo e pronto! Rompe-se o elo e eu solto-me. E a partir daí, até posso não me afastar completamente, mas já não me sinto lá, já estou à margem. Fico logo muito mais crítica, mais intolerante. Isolo-me e abstenho-me.

(hei-de voltar a escrever sobre estas duas situações. A "solidão", problema recorrente e sobre a qual escrevo desde os 11 anos. E os "grupos" ou "falta de gurus" ou "marginalidade")

quarta-feira, 9 de junho de 2010

De dentro

Está mesmo tudo dentro de nós. Finalmente consigo sentir isso, antes só sabia.
Nada tem de vir de fora. Nem o perdão, nem o amor. Que são duas coisas que durante anos pensei dependessem também de outros. A forma como nós relativizamos a culpa e nos aceitamos e amamos vai condicionar os outros à nossa volta e as suas atitudes perante nós.
E é mais difícil, mas somos mais felizes.
É muito mais fácil quando é alguém ou alguma religião a dizer-nos o que está certo ou errado. E depois perdoar-nos sob determinada penitência. Quando é a nossa consciência a responsabilidade é toda nossa. Mas a confiança que daí advém torna-nos mais fortes perante os outros e os seus julgamentos. Porque vem de dentro, porque é sentido.
E o amor?! O amor, agora vejo claramente que está em nós, vem e vai de nós. Como Deus.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Incensação

Num Natal, a minha filha, que tinha uns 4 ou 5 anos, veio da escola com uma estrela em cartolina onde tinha de fazer um desenho e (a mãe…) escrever alguma coisa alusiva ao Natal. Era para pendurar na árvore da sua sala. Ela começou por fazer o desenho, uma boneca tipo anjo, de véu ou cabelo comprido, com as mãos postas, levemente elevadas ao céu. E uma outra boneca, atrás, mais pequenina.  Estava lindo. A seguir pus-me a ler citações variadas que eu tinha nuns caderninhos antigos onde eu assentava coisas que lia e gostava. Depois de vários, curtos, simples e mais apropriados à sua idade e que ela sistematicamente recusava deparei-me com este poema da minha Tia e li-o.
Sem hesitações ela disse: “É este!”
E o desenho, feito antes, ilustrava surpreendentemente o poema.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Porta-retrato

Não suporto mais ver-te ali. A sorrir, como se ainda fosses feliz. Não aguento mais… Sentir o teu olhar nas paredes. O teu cheiro no quarto. Andar, e no vento ouvir o meu nome. Ver-te nos olhos deles. No sorriso que me espera. Estás em todo o lado. E continuas dentro de mim. Na minha pele o toque ainda é teu. Vai! Vai para onde estás…

sábado, 22 de maio de 2010

Cheiros # 2

E depois há os sobrenaturais. Os das energias, dos sentimentos, os surreais.
Subtis, suaves, apercebem-se e quase não se sentem.
O mesmo aroma, não é igual para toda a gente. E o mesmo aroma, com a mesma pessoa, não é sempre igual.
Definem coisas. Aparecem de repente, como que vindos do nada.
E desaparecem, ou não. São os cheiros do outro mundo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cheiros

O que mais facilmente me transporta no tempo, com um “clic” para o passado, para memórias e vivências, são os cheiros. Logo a seguir é a música, há autênticas bandas sonoras de algumas partes/filmes da nossa vida.
Mas os cheiros é que me levam imediatamente e inteira para lá, para aquele sítio, com aquelas pessoas, naquela situação. Pelo cheiro lembro-me logo se era de manhã ou de noite, porque as partes do dia têm cheiros diferentes. Lembro-me se estava feliz ou triste. O cheiro como que entra em mim, fecho os olhos, ele percorre-me, envolve-me e leva-me lá.
Ás vezes aparece de repente, cheiro um determinado aroma, tudo pára, e lá vou eu, e a maior parte destes cheiros eu nem me lembro que eles existiram. Mas quando aparecem, toda a cena daquele tempo, ao pormenor, é reconstituída.
Há os cheiros que eu gosto de recordar como quem abre um álbum de fotografias, mas mais sentido, mais palpável, mais de pele do que uma fotografia.
Também existem cheiros que me lembram momentos tristes, como o das velas a derreter na capela da nossa casa durante os velatórios.
Mas todos, são saudade.
O cheiro naquela manhã igual a tantas outras, em Lisboa, num dia de sol, mas que a frescura matinal ainda paira, que nem o escape dos carros, nem o barulho das gentes, impede que a sua essência prevaleça e ela fique diferente das outras mas igual aquelas manhãs de antigamente.
O cheiro dum mergulho na piscina, que de repente me leva aos banhos da juventude em tanques de rega improvisados, de paredes caiadas e água da nascente, sem cloros, sem desinfectantes, o cheiro puro da água. Que só por si carrega todas as memórias.
O cheiro da maresia, o misto de praia, mar e azul. É dos cheiros com mais referências para mim. Conforme a intensidade, leva-me para este ou aquele verão, para esta ou aquela história.
O cheiro da dama-da-noite, perfume intenso e doce, que envolveu tantas noites da minha vida.
O cheiro do colo da minha Avó.
O cheiro dos raminhos de alfazema que se deitavam na braseira, nos dias frios e chuvosos dos invernos alentejanos e que deixavam entrar o campo para dentro da casa fechada.
O cheiro das gavetas de roupa lavada e engomada
O cheiro do frio, das manhãs em que a geada cobria tudo.
É de manhã e à noite que os cheiros são mais puros, mais intensos, mais vibrantes. Trazendo a energia das suas memórias.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Paz

É aquilo que sinto quando tudo se acalma. Quando a noite envolve o mundo mas há Luz. Quando tu não estás mas eu te sinto. E todos os que já partiram, voltam. E o seu abraço é Amor. Quando fecho os olhos, e vejo. Quando umas coisas acabam e outras começam. Quando consigo ver mais ao longe. Para lá de tudo, por cima das casas, do mar, do céu. E o meu horizonte se pinta de azul. Quando ouço o silêncio e ele me devolve o canto. E as vozes me falam por dentro. Quando as lágrimas caem, mas porque estou em Paz. E eu sei.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pedaços IV

Olho para ti e engulo, tudo o que passa, o tempo que não tivemos.
Não vás! Fica comigo, escolhe-me e leva-me. Eu estou aqui e tu sabes.
Solta, encolhida, feliz, a viver, com a saudade.
Fico quieta , fecho os olhos e escuto, a melodia de sempre.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Deus e a Fé

Eu tenho FÉ. Acredito em Deus. Acredito, admiro e amo Jesus. Sinto-me filha de Deus e venero Nossa Senhora. Sempre tive uma educação católica, das antigas, mas sempre tentei ver as coisas de uma forma aberta e não acreditar em tudo cegamente. A minha necessidade de espiritualidade e de dar explicações ao sobrenatural sempre me fizeram olhar para o lado em relação às outras religiões. Vendo muitas coisas similares, nos seus princípios mais básicos, divergindo depois nos mais práticos e por isso adaptando-se cada uma às tradições de cada povo. Ou seja, sempre achei que como nasci em Portugal sou católica, mas se tivesse nascido noutro sítio seria outra coisa qualquer, mas nunca ateia.

Mas quando falamos de Igreja a coisa muda, e tenho também com ela uma relação muito minha, e que tenho tentado melhorar através dos anos.

A nossa relação com a Igreja tem mesmo que ser pessoal, nós somos individuais, a Igreja são os indivíduos que dela fazem parte, logo todos somos a Igreja. E todos temos o direito de fazer parte dela, cada um com a sua individualidade e com a sua relação com Deus. Só quem tem muita Fé e acredita na imensidão do amor de Deus é que consegue assumir este compromisso com Ele, sem precisar que outros homens lhe digam como agir.
Não são os indivíduos que fazem parte da Igreja que se julgam uns aos outros. É só Deus, nesta relação “eu-Deus” que só Ele conhece, mais ninguém.
Não reconheço aos padres nem a ninguém o direito de me julgar ou de me dizer como eu devo viver a minha vida. A minha fé é suficientemente grande para eu assumir a responsabilidade perante Deus dos meus actos.
E depois, se estiver a fazer alguma coisa mal quem vai arder no Inferno sou eu, por isso…
Mas não tem sido fácil e não cheguei a este patamar assim de repente não. Tenho falado com pessoas, da Igreja e não só. Pensado, repensado, sonhado e meditado (menos…). E às vezes ainda tenho dúvidas.

Eu podia viver a minha Fé, sem precisar da Igreja pois podia, mas eu sinto-me bem a integrar, a fazer parte de uma coisa maior e na verdade sinto-me parte dela e gosto dos rituais. Cada vez que presencio o momento mágico da elevação, sinto que um milagre acontece. Não tenho a mais pequena dúvida que é Deus que entra ali. Este poder iniciático de convocação, muito mais importante do que o de julgar os demais, eu reconheço totalmente aos padres.

A Igreja católica, instituição, como tudo na vida onde há pessoas e poder, tem tido partes muito negras. Mas também tem feito coisas fantásticas. Assim como há padres e leigos demasiado moralistas, que querem que todos sejam castos à sua medida, que aspiram à Santidade (acho isto quase blasfémia), que ainda acham que “O pecado” continua a ser o sexo, ou com quem se pratica…Há outros que são egoístas, tarados, assassinos, pedófilos. Uns não concordam com a minha postura e outros há que eu não concordo com a deles. Pois não são uns nem outros que me vão afastar da minha Igreja.
Para eu ter a liberdade de participar também tenho que dar aos outros essa liberdade. Não julgar, nunca, nós não somos Deus. E Ele enviou o Seu Filho para nos ensinar a amar, e os homens continuam a dar importância a mesquinhices e a desvalorizar o mais importante.
Só gostava que deixassem as pessoas em paz e não continuassem a ensinar às nossas crianças a religião do medo, da hipocrisia, dos falsos moralismos e do preconceito.
Por isso eu não consigo virar as costas, quero fazer parte para mostrar ao mundo que a Igreja também é assim, também tem pessoas como eu, que se assumem como são e se entregam sem medo nas mãos de Deus.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sonhei com uma dança

Sonhei com uma dança!
Sonhei que tu, desconhecido, atravessavas a sala, olhando-me nos olhos, sorrindo e eu sorrindo em troca. Como se te esperasse, como se ansiasse há muito a tua chegada, como se soubéssemos.
Demos os braços, abraçaste-me, enlaçaste-me e eu encaixei-me em ti como se já soubéssemos.
E começamos a dançar, rodopiar, como uma valsa.
E eu sentia os teus braços à minha volta, fortes, seguros. A tua mão, dada, com a minha, como se sempre estivesse. O calor do teu corpo junto ao meu, como se pertencessem. E umas vezes encostavas a tua cara à minha e outras vezes olhavas-me nos olhos, como se me visses.
E sempre a dançar, a flutuar, como se voássemos. E não havia mais nada à volta. Era o céu.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ritmo

O ritmo comanda a vida !
Sempre achei importante ou preocupante, a presença ou ausência de ritmo, mas era só para dançar. Apesar de sempre ter achado que era uma carecterística de pessoas com mais jeito que outras para muitas outras coisas.
Mas agora, cheguei à conclusão que é mesmo uma coisa importantíssima. E a dança passou para segundo plano. Tomemos o BEIJAR como exemplo! Sabem quando se beija alguém e os narizes esbarram? Ou quando a duração de um dos sub-beijinhos é maior para um e menor para o outro? Ou quando as mãos parecem desconexas com o movimento própriamente dito do beijo? Pois é isto a falta de ritmo a beijar, é a falta de ritmo entre duas pessoas, é a falta de ritmo numa relação.
Agora experimentem beijar alguém totalmente dentro do mesmo ritmo.
É alucinante! Parece que todos os gestos foram ensaiados, desde o tal simples rodar da cabeça (sem narizes a esbarrar), os sub-beijinhos acontecem ao mesmo tempo, exactamente com a mesma duração. As mãos dão-se e desdão-se com a mesma cadência. As carícias, a respiração são ao compasso, e tudo, mas tudo se encaixa na perfeição.
Parece uma dança muito bem ensaiada. Voltamos à dança…
Daí, pus-me a pensar e realmente o ritmo é importante para tudo num relacionamento amoroso. Para além do ritmo a beijar, é o ritmo a fazer amor, a conversar, a divertir-se, nas férias, a ir ás compras…! É em tudo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Impaciência

O meu maior defeito, de todos os que tenho, e são muitos…é a falta de paciência!
Não é a intolerância de que muitas vezes sou acusada, não. É mesmo Impaciência, assim com letra grande.
É isso que me torna pior, em todas as ocasiões. Já pensei que era falta de calma, também tenho, mas não é isso. É mesmo que eu não tenho paciência para as pessoas. Para as que me fazem esperar, as que não percebem as coisas à primeira, as que não percebem à segunda, nem à terceira…
Para as pessoas, que sem culpa nenhuma, estão em situações para as quais eu não tenho paciência. Por exemplo, a menina numa caixa de supermercado, que está com uma bicha de gente que, ou se esquece de não sei o quê, ou trouxe uma coisa sem preço. Não tenho paciência, pronto.
Até nestas situações normais da vida de todos os dias.
Não tenho paciência quando as pessoas impedem a vida de fluir. Quando colocam entraves, quando perguntam estupidezes, quando param.
E depois há os casos piores que são os que trazem à tona o pior que há em mim. Não tenho paciência para pessoas estúpidas, racistas, intolerantes, hipócritas e falsas.
Por último, (but not the least…) ás vezes não tenho é paciência para mim. Não tenho paciência para a minha falta de paciência com as pessoas de quem eu gosto. Principalmente com os meus filhos, que adoro acima de tudo e todos, e que à semelhança da menina da caixa do supermercado não têm culpa. De ser ainda pequenos e de não saber e pensar como adultos, ou talvez como eu.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O tempo, sempre o tempo...

Todos sabemos que o mundo gira, que tudo passa, que o tempo corre esbaforido lá pró fim e mesmo assim queremos que as coisas não mudem. Que parem no tempo exactamente como gostamos e nos lembramos delas.
É aquela sensação de calmia, de silêncio, com que a natureza ás vezes nos presenteia, que nos engana.
Parece mesmo que é possível.
Mas nunca é.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A minha casa côr de rosa

Ontem, sem aviso prévio, ou seja sem estar preparada, entrei na minha antiga casa. Choque! Primeiro, eu, a bater à “minha” porta! Demoraram a abrir, estavam no jardim, lá atrás, onde não se ouve a campainha, e eu ouvia-os a falar, rir, pareciam-me intrusos, ali tão á-vontade, como se aquilo fosse deles. Depois de um telefonema lá veio ela abrir a porta. Muito simpática, convidou-nos a entrar. Os meus filhos entraram de rompante, numa ânsia de ver, eu a medo, sem querer mostrar e ao mesmo tempo a fazer de conta que aquilo era normal, que não me fazia impressão. Mas estava a sentir tudo, a lembrar-me de tudo! À medida que ía entrando, o jardim, as escadas do alpendre, o corredor, o escritório, a sala de jantar...Foram 10 anos.
As primeiras visitas, quando ela ainda era uma casa abandonada. O amor à primeira vista quando a escolhemos, as visitas semanais durante um ano enquanto a púnhamos de novo bonita, nova. As flores que plantámos, os meus filhos que cresceram ali. Naqueles minutos, breves, à pressa, a fazer conversa de circunstância, tudo me veio à cabeça, como um filme. Lembrei-me de chegar da maternidade com a minha filha, vi os primeiros passos dos meus filhos no corredor, ouvi os seus choros de bebé, lembrei-me do que sentia em cada situação. Estávamos na sala e a minha filha pediu-me em segredo para ver o seu quarto, ela ouviu e insistiu para subirmos. Que impressão! Da janela lá de cima vimos o resto da família no jardim lá de trás. A minha filha encostou a testa ao vidro e temi que chorasse. “Ela é muito sentimentalona” disse eu a disfarçar. “Faz-lhe impressão, é?” …”Pois, disse eu, se até a mim faz”…Ela, amorosa, disse-lhe que podia voltar sempre que quisesse, brincar com os filhos dela.
Apressei a saída, com uma vontade imensa de entrar em todas as divisões, de senti-las outra vez, de lembrar tudo o que vivi em cada uma delas, mas sozinha, sem ter que fazer conversa, sem ter que disfarçar. Bem que eu queria ter vendido a casa a alguém meu amigo, para poder continuar a visitá-la. Mas já não sei se quero, é aquele masoquismo, aquela curiosidade sádica, sabemos que vai doer, mas mesmo assim queremos sentir.
Enfim, já passou…

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Viver

Quero contar, falar, abrir-me. Quero expôr-me e mostrar tudo o que tenho e sou.
Sinto uma vontade louca de viver em expansão total, sair de dentro de mim para o mundo. Viver todas as histórias, as minhas, as reais, as sonhadas, as inventadas
Ser eu, o outro e a outra. Quero abrir-me e entregar-me. Tirar as algemas, despir-me dos medos, limpar-me de mágoas, chorar em público. Quero ser verdadeira, ser mentira, ser igual e ser eu mesma. Sem pudor, de braços abertos, mãos postas, cabelo ao vento. Quero voar, subir ao céu, beber a chuva, agarrar a terra, sujar as mãos e despir-me de tudo. E voltar, e ir e explodir de vida. Sem paciência, sem pressa, sem pensar. Amando. Só.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Carta ao DN de 19/06/1995

Para a familia e amigos de Alcindo Monteiro, cabo verdiano, assassinado no bairro alto, Lisboa, a 10 Junho 1995.

“Venho por este meio apresentar à família e amigos, do Alcindo, os meus mais sinceros sentimentos.
Como portuguesa sinto-me envergonhada, como ser humano sinto-me revoltada com tudo o que aconteceu, e principalmente, extremamente triste.
Quero com esta minha carta, mostrar-vos que mesmo assim, e apesar de tudo, a maioria dos portugueses não são como aquela minoria, marginal, desajustada, complexada, fraca, cobarde, sem referências e sem princípios.
Que para se afirmar, se junta em grupos, se veste de igual e rapa a cabeça; para se sentirem inseridos em qualquer coisa, se denomina ridiculamente de “skins”, movimento “internacional” para estes “nacionalistas”; que para mostrar força, batem e matam pessoas indefesas.
Sem perceber que todo o seu comportamento só demonstra aquilo que realmente são, uns vermes cobardes, autêntico lixo, um projecto fracassado de ser humano.
Quero também expressar a minha admiração por vós, cabo verdianos, Africanos em geral, vindos das ex-colónias portuguesas, que depois de tudo o que passaram lá, vêm para Portugal, honrar-nos ao serem portugueses.
É uma honra e um privilégio poder considerá-los irmãos, cidadãos do mesmo País.
Dão-nos, ao nosso País, o vosso trabalho, a vossa simpatia, a vossa alegria, o vosso calor, a vossa música, a vossa dança, a vossa cultura, e acima de tudo a vossa dignidade.
Obrigada!
E peço desculpa em nome daqueles, e em nome de todos os portugueses, por não sabermos recebê-los como devíamos e como mereciam.
De uma cidadã portuguesa, solidária com a vossa dor. “

domingo, 17 de janeiro de 2010

Coisas da idade

Isto da idade é uma ganda treta.
Vamos lá ver. Uma pessoa parece mais nova do que é, pelo menos é o que dizem e nós, temos que confessar, achamos sempre isso. Raramente uma pessoa se vê ao espelho como é realmente, ou no mínimo como os outros nos vêm, e esses outros também variam entre si…(ganda treta!) .
Um exemplo, falando de pessoas na casa dos 40, um pouco antes e um pouco depois. Vem alguém e pergunta a nossa idade, invariavelmente é gente um pouco mais nova, uns 5 ou 6 anos. Nem os muito mais novos, por pudor, nem os muito mais velhos por desinteresse, perguntam a idade.
Então nós respondemos: “Tenho “tal” . E eles: “Não !!!!! A sério???” e nós “ Sim, é verdade!” E vamos ficando mais animados por dentro… E eles “Não parece nada, eu achava que tinhas… pronto, uns “tal”! E esses “tal” que eles nos dão, são menos uns míseros 4 anos! Para nós nada, para eles muito, mas não tão pouco como sermos da idade deles, que, como disse ao inicio, dista de nós uns 5 ou 6 anos, mas como também já disse, cada um sente-se sempre mais novo.
E a animação passa. A cara que fazem e que espelha o que lhes vai na alma, e nós sabemos bem porque já tivemos aquela idade, há bem pouco tempo. É que eles então olham-nos tipo “coitada, afinal é mais velha, já tem “tal” !!!” Em vez de olhar-nos tipo “ fantástica, não parece nada, é como se não tivesse esta idade, quem me dera estar assim daqui a 5 anos…”
Ao dizermos a nossa verdadeira idade , mesmo quando não parecemos, ficamos rotuladas com aquela idade, passamos imediatamente de “não-sei-que-idade-tem-mas-parece-pouco” para “não-parece-mas-É-velha”.
A idade, que é tempo, é relativo!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Pedaços III

Aquelas ruas com pedras grandes, altas, gordas
Pequenos mundos, palcos, cenários
Planícies, montes, campanários
Ermidas caiadas de branco, recortadas no fogo do céu do entardecer
Ruas iguais ás outras e a todas
Esquinas escuras onde nos escondíamos
Onde me agarravas e me davas tudo

Já não há nada
Olho e não vejo
O que tenho já não é teu
Eu, já não me sinto em ti.

Pedaços II

Num tempo qualquer fomos amantes
Únicos, marginais dos outros
Tu entravas em mim como eu própria
Sem diferença
Olha para mim!
Vê-me, sente-me!
Tu já não estás,
E o meu corpo treme, frio, abandonado
Tu eras eu

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pedaços I

Sinto o meu corpo inerte, estendido, a penumbra sobe, estilhaça-se, os pedaços caem
Cortantes, penetram em mim e rasgo-me
Tu tomas-me, agarras o que tenho e te quero dar
Não te sinto em mim
Traíste o que não te dei